quinta-feira, 23 de novembro de 2023

As Odisseias De Josperd (Trecho): Os clones de Schrödinger | Josperd D.

Num primeiro ponto de vista, pensei estar louco. Vejo clones, tanto versões femininas quanto masculinas minhas, como a Phoenix e o Zero; junto de outros com múltiplas personalidades. Sendo estes um ditador, um pastor, um cozinheiro, um cientista, um físico, um lunático, uma prostituta (ou puta para os mais íntimos), uma mendiga, uma hippie, uma comunista, uma historiadora - que, por sinal, está grávida - e uma aberração, que só possui pernas, pequeno e com um estilo de cabelo mais solto e um pouco parecido com o meu; sendo estes apenas alguns dos vários que vi e que já descrevi para você, caro leitor, - ruivinha, no caso.

Decidindo, pela comunidade, um plano que envolvesse a destruição da maior multinacional do mundo, repito, do mundo! - Que tem influência tanto política quanto econômica por se tratar de um monopólio. - A Neolinque, que está nos perseguindo para esconder as fraudes e abusos que cometeram contra os clones e a minha imagem.

Mas, quando percebi... Em um segundo ponto de vista, é claro, que o que estava contemplando se tratava do maior, se não o maior experimento geopolítico, social e científico de todos os tempos, comecei a conceber toda aquela tosquisse como uma verdadeira demonstração real de uma construção de um contrato social - prisão de Stanford está no chinelo - e se tornou meu verdadeiro momento de êxtase. Nesse instante de epifania, percebi que os clones não eram simples coincidências, mas sim peças de um elaborado quebra-cabeça social, arquitetado para desafiar as normas estabelecidas.

Veja, vamos ver o interno para depois seguirmos o externo. Deixe-me pegar aquela lista de clones anterior e contextualizar o quão atual tudo isso se torna: um ditador que não tem um povo para comandar, um pastor evangélico que adora a Deus e sequer sabe se tem uma alma para ser salvo, já que se originou de uma clonagem ao invés de um processo de reprodução humana (divino), um cientista que nem se importa com a ciência, enquanto um físico é revoltado contra a própria ciência, um cozinheiro de uma comunidade inimiga à qual ele foi sequestrado, um lunático que sequer poderia ter lugar de fala em debates como estes, uma prostituta que - desculpe pelo vocabulário - sequer pode fuder ou exercer seu cargo, sendo que a clone historiadora de psicológico definhado vai ter um filho que logicamente veio do sexo que aconteceu antes mesmo de uma "prostituta", uma comunista que jamais ouviu ou sequer leu as ideias de Marx, uma mendiga que teve seus companheiros mortos na sua frente e que mesmo assim convive na comunidade dos sádicos que os mataram, uma hippie que nem sabe o que é paz, além da Phoenix e do Zero, que nem preciso falar - longa história. - Sendo que todos estes têm uma mentalidade e visão muito mais conservadora de segurança e estado como um todo, estão influenciando toda uma nação mundial em bases bem mais arcaicas de um estruturalismo firmado em burocracias e aristocracia datadas em anos, dominaram tudo isso em apenas menos de 2 meses. - Isso que é a verdadeira representação de classes à margem da sociedade, mesmo que não exercendo seus papéis fielmente, denotando o quanto certos liberalismos, mesmo parecendo novos, só são repetições na história de classes que antes não dominavam, exercendo sua verdadeira força mesmo que disfarçados. Isso não é política, isso é a verdadeira construção da personagem que todos nós temos um pouco.

Mesmo que já tenha me acostumado a ver tais dilemas todos os dias, acho interessante ver a reação de você, Camila (a ruivinha), quando está perto dos meus clones de uma certa individualidade forte. Os quais fumam, bebem, dialogam e compartilham de uma cultura que eu completamente não compactuo, mas admiro como um todo. Contudo, nada me tira boas gargalhadas quanto quando eu vejo você estranhando a barriga da historiadora com um filho até então de um pai clone. Literalmente, dois "eus" se envolveram - e existe coisa mais narcisista e traumática que isso?

Josperd Dias                              21/07/2029

Share:

The Odyssey of Josperd (Excerpt): Schrödinger's Clones | Josperd D.

At first, I thought I was crazy. I see clones, both female and male versions of myself, like Phoenix and Zero, along with others with multiple personalities. Among them, a dictator, a pastor, a cook, a scientist, a physicist, a lunatic, a prostitute (or intimate term for friends), a beggar, a hippie, a communist, a historian - who, by the way, is pregnant - and an aberration, with only legs, small with a hairstyle somewhat like mine; these are just a few of the many I've seen and described to you, dear reader - the redhead, in this case.

Deciding, as a community, on a plan involving the destruction of the world's largest multinational corporation, I repeat, the world's largest! - With political and economic influence due to its monopoly. - Neolinque, which is pursuing us to conceal the frauds and abuses they committed against the clones and my image.

But when I realized... From a second perspective, of course, that what I was witnessing was perhaps the greatest geopolitical, social, and scientific experiment of all time, I began to see all that absurdity as a true and tangible demonstration of the construction of a social contract - Stanford's prison is child's play - and it became my true moment of ecstasy. In this moment of epiphany, I realized that the clones were not mere coincidences but pieces of a sophisticated social puzzle, designed to challenge established norms.

You see, let's look internally before we look externally. Let me take that list of clones from earlier and contextualize how relevant all of this becomes: a dictator with no people to rule, an evangelical pastor who loves God and doesn't even know if he has a soul to be saved since he originated from cloning instead of divine human reproduction, a scientist who cares little about science, while a physicist rebels against the very science he practices, a cook from an enemy community to which he was abducted, a lunatic who shouldn't even have a voice in debates like these, a prostitute who - pardon the language - can't even fuck or perform her duties, considering that the mentally deteriorating historian clone is expecting a child logically conceived before a "prostitute" even could, a communist who has never heard or read Marx's ideas, a beggar who witnessed her companions being killed and yet lives among the sadists who murdered them, a hippie who doesn't know what peace is, and the Phoenix and Zero, about whom I need not elaborate - a long story. All of them, with a mentality and vision much more conservative regarding security and the state as a whole, are influencing a global nation on much more archaic foundations of structuralism rooted in bureaucracies and aristocracy dated in years, dominating all of this in just under 2 months. This is the true representation of marginalized classes in society, even if not faithfully playing their roles, indicating how certain liberalisms, though seeming new, are just repetitions in the history of classes that previously did not dominate, exerting their true strength even when disguised. This is not politics; this is the true construction of the character that we all embody to some extent.

Even though I've become accustomed to seeing such dilemmas every day, I find it interesting to see your reaction, Camila (the redhead), when you're near my clones with a strong individuality. They smoke, drink, converse, and share a culture that I completely disagree with but admire as a whole. However, nothing gives me a good laugh more than seeing you perplexed by the historian's belly carrying a child, conceived by a clone father. Literally, two "me's" got involved - is there anything more narcissistic and traumatic than that?

Josperd Dias
July 21, 2029

Share: